Resumo
Os grupos quilombolas no Brasil sempre foram invisibilizados. Suas lutas e suas reivindicações nem sequer faziam parte das pautas de discussão da política nacional antes da atual Constituição Federal. Por isso, não há registros de seu passado coletivo. Passou a existir uma preocupação com esses grupos sociais, no sentido de entender suas lutas cotidianas por território, por políticas públicas, pela construção de sua identidade e de sua cidadania somente nos últimos 30 anos. Uma das questões que ainda persiste diz respeito ao modo como eles conseguiram vencer o tempo de opressão e chegar ao momento presente, tendo experimentado, ao longo da ocupação de seus territórios de pertencimento, significativas formas de subjugação, de expropriação, de subordinação. Merecem uma análise mais apurada as táticas criadas por essa população para manter-se diante do poder político e econômico exercido por fazendeiros, pelo agronegócio, assim como pelas empresas nacionais e internacionais. Diante desse quadro, este artigo tem por objetivo evidenciar as memórias de resistência do grupo quilombola de Bacabal (localizado no município de Salvaterra, na ilha do Marajó, no Pará), que vive há mais de três séculos num território também reivindicado por fazendeiros. A pesquisa de campo com o uso da história oral, levantada por meio de entrevistas com as pessoas mais velhas da comunidade, foi a principal forma de coleta de dados. Os resultados apresentam as formas como os sujeitos constroem a memória coletiva em torno da luta pela manutenção de uma área que ainda hoje está em litígio com a fazenda limítrofe.
Palavras-chave: Estudos comparados; Buenos Aires; Rio de Janeiro; historiografia das migrações; associativismo galego.
|
Abstract
The Quilombola groups in Brazil have always been rendered invisible. Their struggles and demands were never included in the agenda of national policy discussions before the current Constitution. Therefore, there are no records of their past collective identity. Only in the last 30 years has the interest in these groups increased in the sense of understanding their daily struggles for territory, public policies, identitybuilding and citizenship. However, one of the issues that still remain unsettled is how they managed to survive the time of oppression, after having experienced major forms of subjugation, expropriation, and subordination during the occupation of their territory. The tactics they employed to resist the economic and political power exerted by land owners, agribusiness, and national and international companies deserve a more detailed analysis. Given this background, the article aims to highlight the memory of the resistance of the quilobada community in Bacabal, located in Salvaterra, a city on the island of Marajó, Pará. They have lived for more than three centuries on a piece of land which is currently being claimed by farmers. Our field research and main data collection are based on oral history interviews conducted with the elders of the community. The results show how they build their collective memory around the struggle for their right to remain in an area which is currently in dispute with a neighboring farm.
Key Words: Comparative studies; Buenos Aires; Rio de Janeiro; historiography of migrations; Galician associativism.
|