Resumo:
Sob o epíteto de “tratados desiguais”, os Tra- tados de Amizade e Aliança e de Comércio e Navegação assinados em 1810 entre Inglaterra e Portugal foram interpretados por parte da his- toriografia como a expressão da “arguta” diplo- macia britânica e da “debilidade” política, eco- nômica e militar que Portugal experimentava na ocasião. Se os termos do Tratado de Comércio e Navegação evidenciam a pressão inglesa exer- cida sobre a Corte lusitana, por sua vez a resis- tência dos representantes portugueses contrários à participação de estrangeiros no comércio de cabotagem e à extinção dos privilégios da Com- panhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro revela a estratégia do governo joanino em assegurar o controle do comércio praticado nos portos brasileiros, preservando, assim, os interesses de negociantes reinóis e de seus cor- respondentes radicados nas principais praças da América portuguesa. Nesse sentido, a partir da análise das circunstâncias que presidiram a as- sinatura do Tratado de Comércio e Navegação e de suas repercussões, novos significados do episódio se distinguem, permitindo-nos com- preender o acordo no âmbito das disputas tra- vadas entre ingleses e luso-brasileiros em torno do comércio atlântico e da circulação costeira de mercadorias na América. Observa-se que a atuação dos setores ligados ao comércio de ca- botagem e de longo curso controlado pela Com- panhia do Alto Douro evidencia não apenas os limites da sujeição luso-brasileira aos ditames da Grã-Bretanha, como também a importância desses homens de negócio dentre os demais gru- pos que integravam as bases de sustentação do governo joanino e, posteriormente, do governo de D. Pedro
Palavras-chave: Tratado de Comércio e Navegação; Governo joanino; comércio de cabotagem; Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
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Abstract:
Under the tag “unequal treaties”, both the Friendship and Alliance and the Trade and Navigation Treaties signed in 1810 between England and Portugal were interpreted by historiography as an expression of “cunning” British diplomacy, and of political, economic and military “weakness” experienced by Portugal at the time. If the terms of the Trade and Navigation Treaty show, on the one side, the English pressure exerted on the Portuguese Court, the resistance, on the other side, of Portuguese representatives against foreigners’ participation in the cabotage trade and against the extinction of the privileges of the Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro reveal the strategy of the Joanino government to ensure the control of the trade practiced in Brazilian ports, thus preserving the interests of the ruling traders and their counterparts based in Portuguese America. In this sense, based on the analysis of the circumstances that presided over the signing of the Trade and Navigation Treaty and its repercussions, new meanings of the episode are distinguished, allowing us to understand the agreement within the scope of disputes between English and Luso-Brazilians over Atlantic trade and coastal movement of goods in America. We note that the performance of the sectors linked to the cabotage and longhaul trade controlled by the Companhia do Alto Douro shows not only the limits of the Portuguese subjection to the dictates of Great Britain, but also the importance of these businessmen among other groups that were part of the support bases of the Joanino government and, later, of Dom Pedro’s government
Keywords: Trade and Navigation Treaty, Joanino government, cabotage trade, Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro
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