No momento em que se comemora o centenário de nascimento de Oscar Dias Correa, ocorrido no dia 2 de fevereiro, é importante para a Casa lembrar os seus vínculos com o IHGB.
A grandeza e a integridade do político, do jurista, do professor universitário ou do intelectual, já foram por mim ressaltadas no discurso de recepção como sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e que se encontra publicado em nossa Revista.
Desejo destacar agora apenas dois traços de sua personalidade: o interesse pelo conhecimento e a preocupação com a vitalidade das instituições que o promovem.
O homem que tanto conhecia a obra de Dante e amava profundamente o Brasil, Minas e Itaúna, reconhecia o valor que tem o IHGB para a cultura brasileira e para o capital simbólico do país, e disso deu provas.
Uma delas ocorreu no final da década de 1990, quando recebi telefonema de Oscar Dias Correa consultando sobre o interesse do Instituto em receber como doação o arquivo da União Democrática Nacional, o partido que, como todos os que existiam à época, foi fechado pelo Ato Institucional n. 2, em 1965. A concordância foi imediata e sublinhei o entusiasmo que a oferta provocaria entre os membros da Casa, particularmente porque – disse-lhe - o excelente Arquivo que temos era forte em documentação colonial e imperial, mas médio em relação à da República, não obstante possuirmos alguns acervos presidenciais e outras raridades.
Meu interlocutor informou que verificaria quais as providências a tomar e que voltaríamos a conversar.
Passou-se algum tempo e procurou-me pessoalmente, acompanhado do ex-governador de Minas, Rondon Pacheco, também antigo prócer udenista. Reiterou a oferta e após a resposta afirmativa, acrescentou:
- “Mas há outra coisa. Desejamos saber se o Instituto Histórico receberia também em doação, além do arquivo, o andar da rua México que foi sede da UDN.”
Respondi de imediato que sim – “afinal, não somos pobres orgulhosos”.
A tramitação legal foi célere, acompanhada, do lado do Instituto, pelo então tesoureiro Victorino Chermont na condição de advogado e o processo de transferência do arquivo e do imóvel se concluiu. Na circular aos sócios comunicando a doação foi destacado se tratar do primeiro acréscimo patrimonial de vulto feito pelo IHGB desde a construção do prédio, conseguida por Pedro Calmon quase trinta anos antes.
Nossa contrapartida cumpriu-se rapidamente: a indexação do material, elaborada pela funcionária Célia da Costa e logo a edição do catálogo.
Anos depois, ao surgir vaga de sócio honorário, Oscar Dias Correa foi cogitado. Não foi tarefa fácil convencê-lo a se candidatar. Insisti muito, centrando os argumentos em dois pontos: que os diferentes estatutos do IHGB sempre reservaram uma cota para personalidades e que, mesmo sem este critério, credenciavam seu ingresso os trabalhos relativos ao Brasil – como a crítica à constituição de 1967, a defesa do estado de direito, os estudos biográficos de “Vultos e Retratos” e “Vozes de Minas”, a defesa do societarismo e suas “Memórias políticas” (então recém lançadas).
Acabou por aceitar e seu discurso de posse, em 10 de abril de 2002, foi rico depoimento histórico sobre a UDN e ao mesmo tempo uma análise percuciente da situação política brasileira de meados ao final do século XX. A seu modo desassombrado, muito udenista, estudou os programas do partido e procurou refutar uma a uma as principais acusações a ele feitas à época da sua existência e posteriormente: o golpismo, o antitrabalhismo, o elitismo e o moralismo. Sua conclusão, a de que:
“...a contribuição da UDN à democracia brasileira é inegável e se encontra em alguns objetivos que colimou: a liberdade democrática, a dignidade da vida pública, o combate a todas as formas de abastardamento – especialmente a corrupção da função pública – a procura da solução dos problemas nacionais, o que tudo se vê em seus programas e na sua atuação.”
No mesmo discurso salientou a relevância dos estudos históricos e o papel do IHGB para o seu desenvolvimento no Brasil, vendo nele:
“...o ambiente, o clima, a aura, que imporão ao historiador o respeito às tradições de dignidade, fidelidade e isenção que ele encarna”.
No centenário de Oscar Dias Correa, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro deve-lhe este reconhecimento.